Pena de Etú (Pintada . Galinha de Angola)
Símbolo de Fertilidade e Vínculo com a Terra
A galinha-d’angola, ou Etú (em Yorubá), é um animal de extrema importância no Candomblé. Sua presença nos rituais e sacrifícios é fundamental, e suas penas, por extensão, herdam e expressam uma carga simbólica poderosa, representando aspectos vitais da existência e da espiritualidade.
Esotericamente, a pena de Etú representa:
* Fertilidade e Abundância: A Etú é conhecida por sua prolificidade e capacidade de reprodução. Suas penas, portanto, simbolizam a fertilidade em seu sentido mais amplo: a capacidade de gerar vida, de procriar, de fazer crescer e prosperar. Elas estão ligadas à abundância material, à saúde e à vitalidade.
* Vínculo com a Terra e Ancestralidade: A galinha-d’angola é um animal que vive em contato direto com o solo. Essa característica a conecta à terra, ao fundamento, à base da existência. As penas de Etú, assim, representam a ligação com a ancestralidade, com as raízes, com o chão que sustenta a vida e os mistérios da criação.
* Comunicação e Dispersão: O canto peculiar e insistente da Etú é um chamado, uma comunicação. Suas penas, em um sentido mais sutil, podem simbolizar a dispersão e a manifestação de energias, bem como a comunicação entre planos, embora de uma forma mais terrena e fundamental do que a comunicação do Ekodidé.
* Renovação e Purificação: A Etú é um animal de sacrifício por excelência em muitas cerimônias. Suas penas, carregadas com a energia desse ato ritualístico, são utilizadas em processos de purificação, limpeza e renovação energética, representando a eliminação de energias negativas e a abertura para um novo ciclo.
* Assentamento de Forças Fundamentais: Devido à sua ligação com a terra e a fertilidade, as penas de Etú são cruciais no assentamento de forças e energias que operam na base da vida, na procriação e no sustento, especialmente em relação a Orixás ligados à terra, à criação e à maternidade, como Nanã, Oxum, Iemanjá e as Iabás em geral.
Modo de Uso da Pena de Etú no Candomblé
O uso da pena de Etú, embora menos restrito que o Ekodidé em termos de hierarquia, ainda é profundamente ritualístico e está sempre integrado a cerimônias e preceitos específicos do Candomblé, sob a orientação de sacerdotes e sacerdotisas. É um elemento fundamental em muitos processos.
Alguns dos principais modos de uso incluem:
* Assentamentos de Orixás (Igbas): As penas de Etú são componentes essenciais na composição de inúmeros assentamentos de Orixás, particularmente aqueles que regem a fertilidade, a maternidade, a terra e a criação, como Nanã, Oxum, Iemanjá, e também em assentamentos de fundamento de muitos outros Orixás. Elas ajudam a “firmar” a energia do Orixá no assentamento, potencializando seu axé ligado à procriação e à abundância.
* Ritos de Iniciação (feitura de santo): A pena de Etú tem um papel proeminente nos ritos de iniciação (feitura de santo). Ela é frequentemente usada em diversos momentos do processo, simbolizando a fertilidade do novo filho de santo no axé, a capacidade de gerar e receber axé, e a conexão com a ancestralidade e com o fundamento do terreiro.
* “Feitura” de Adoxus e Outros Patuás: Em alguns patuás, amuletos e objetos de proteção e atração de prosperidade, as penas de Etú podem ser utilizadas como um componente que atrai fertilidade, abundância e proteção terrena para quem os porta.
* Rituais de Purificação e Descarrego: Devido à sua associação com a renovação e a eliminação de energias negativas (por seu papel no sacrifício ritual), as penas de Etú podem ser usadas em rituais de descarrego e limpeza energética, seja em banhos, defumações ou em outros preparos.
* Reforço de Ajuns (Assentamentos de Egun): Em alguns rituais e fundamentos relacionados aos Ajuns (assentamentos de Egun, os ancestrais), as penas de Etú podem ser empregadas para firmar a ligação com a ancestralidade e a terra, reforçando a memória e a presença dos que partiram.
* Preparação de Amacis e Banhos Rituais: As penas de Etú podem ser utilizadas na preparação de amacis (líquidos sagrados para rituais de purificação e energização da cabeça) e outros banhos rituais, infundindo a água com seu axé de fertilidade e renovação.
A pena de Etú, com sua beleza pontilhada e seu simbolismo intrínseco, é um lembrete constante da interconexão entre a vida, a terra e a espiritualidade no Candomblé. Ela não é apenas um resquício de um animal, mas um veículo de axé que atua em planos profundos de fertilidade, fundamento e renovação.
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